segunda-feira, 10 de agosto de 2015

Quem falou que somos todas princesas indefesas?

"Mulher frágil e comum conhece homem (poderoso e incomum) que aparece em sua vida para salvá-la (seja literalmente, de bruxas e de dragões, seja metaforicamente, de sua vida entediante e monótona)."

Embora o enunciado encaixe-se perfeitamente em quase todos os contos de fadas infantis e em algumas histórias "modernas" (como 50 Tons de Cinza, Crepúsculo, Pretty Woman, dentre tantas outras), ele se refere, na realidade, à ideia que ainda aprisiona a maioria das mulheres, consciente ou (como é mais frequente) inconscientemente: a ideia de que o amor, ou o homem, é a solução para todos os seus problemas; a ideia de que elas precisam ser SALVAS.

Isso, na chamada vida real, não existe. Chega de enganar-se em ilusões, de buscar no exterior o que precisa ser encontrado a nível interior. O amor não é um complemento. Não será um outro quem preencherá o vazio interno que habita cada um de nós.

A idealização sobre o amor romântico e sobre o príncipe encantado acabará no momento em que essas mulheres compreenderem que elas, e somente elas, são o centro do seu universo, a personagem principal de suas vidas. Isso significa que toda e qualquer mudança positiva (a verdadeira "salvação") na vida de uma mulher depende única e exclusivamente dela.

Torne-se a mulher que você gostaria de ser, que você admiraria: a versão melhorada de si mesma. Respeite-se acima de tudo. Só assim o verdadeiro amor transbordará, o amor que está dentro e que vem de dentro: o amor por si própria. E aí eu quero ver que mulher submeter-se-á a sacrifícios homéricos e dramáticos (à la Cinderela, Branca de Neve, Anastasia Steele, etc) só para ter um homem ao seu lado.

"Era uma vez, numa terra muito distante, uma princesa linda, independente e cheia de auto-estima. Ela se deparou com uma rã enquanto contemplava a natureza e pensava em como o maravilhoso lago do seu castelo era relaxante e ecológico...

Então, a rã pulou para o seu colo e disse:
- Linda princesa, eu já fui um príncipe muito bonito. Uma bruxa má lançou-me um encanto e transformei-me nesta rã asquerosa. Um beijo teu, no entanto, há de me transformar de novo num belo príncipe e poderemos casar e constituir lar feliz no teu lindo castelo. A tua mãe poderia vir morar conosco e tu poderias preparar o meu jantar, lavar as minhas roupas, criar os nossos filhos e seríamos felizes para sempre.

Naquela noite, enquanto saboreava pernas de rã sautée, acompanhadas de um cremoso molho acebolado e de um finíssimo vinho branco, a princesa sorria, pensando consigo mesma: - Eu, hein?! Nem morta!"

(Luis Fernando Veríssimo)

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